A herança quantitativa também é um caso particular
de interação gênica. Neste caso, em que as diferenças fenotípicas de uma dada
característica não mostram variações expressivas, as variações são lentas e
contínuas e mudam gradativamente, saindo de um fenótipo “mínimo” até chegar a
um fenótipo “máximo”. É fácil concluir, portanto, que na herança quantitativa
(ou poligênica) os genes possuem efeito aditivo e recebem o nome de poligenes.
A herança quantitativa é muito frequente na
natureza. Algumas características de importância econômica, como a produção de
carne em gado de corte, produção de milho etc., são exemplos desse tipo de
herança. No homem, a estatura, a cor da pele e, inclusive, inteligência, são
casos de herança quantitativa.
Herança da
cor da pele no homem
Segundo Davenport (1913), a cor da pele na espécie
humana é resultante da ação de dois pares de genes (AaBb), sem dominância.
Dessa forma, A e B determinam a produção da mesma quantidade do pigmento
melanina e possuem efeito aditivo. Logo, conclui-se que deveria existir cinco
tonalidades de cor na pele humana, segundo a quantidade de genes A e B.
Genótipos
|
Fenótipos
|
aabb
|
pele clara
|
Aabb, aaBb
|
mulato claro
|
AAbb, aaBB, AaBb
|
mulato médio
|
AABb, AaBB
|
mulato escuro
|
AABB
|
pele negra
|
Vejamos os resultados genotípicos e fenotípicos que
seriam obtidos a partir do cruzamento de dois indivíduos mulatos médios,
duplo-heterozigotos:
mulato médio
X mulato médio
AaBb
AaBb
|
AB
|
Ab
|
aB
|
ab
|
AB
|
AABB
Negro
|
AABb
mulato escuro
|
AaBB
mulato escuro
|
AaBb
Púrpura
|
Ab
|
AABb
mulato escuro
|
AAbb
mulato médio
|
AaBb
mulato médio
|
Aabb
mulato claro
|
aB
|
AaBB
mulato escuro
|
AaBb
mulato médio
|
aaBB
mulato médio
|
aaBb
mulato claro
|
ab
|
AaBb
mulato médio
|
Aabb
mulato claro
|
aaBb
mulato claro
|
aabb
Branca
|
Fenótipos:
1/16 branco
4/16 mulato claro
6/ 16 mulato médio
4/ 16 mulato escuro
1/16 negro
|
E a cor dos
olhos?
Todo o professor de biologia tem que responder, durante
as aulas de genética, ao inevitável questionamento sobre como é herdada a cor
dos olhos. Contudo, muitos ainda tratam erroneamente essa característica
genética como um tipo de herança mendeliana simples, cuja ocorrência é
influenciada por um único par de genes associados com a produção de olhos
escuros e claros. Essa explicação simplista, porém, não mostra como surge toda
a variedade de cores presentes nos olhos e não esclarece por que pais de olhos
castanhos podem ter filhos com olhos castanhos, azuis, verdes, ou de qualquer
outra tonalidade. A cor dos olhos é uma característica cuja herança é poligênica,
um tipo de variação contínua em que os alelos de vários genes influenciam na
coloração final dos olhos. Isso ocorre por meio da produção de proteínas que
dirigem a proporção de melanina depositada na íris. Outros genes produzem
manchas, raios, anéis e padrões de difusão dos pigmentos.
Distribuição
dos fenótipos em curva normal ou de Gauss.
Normalmente,
os fenótipos extremos são aqueles que se encontram em quantidades menores,
enquanto os fenótipos intermediários são observados em frequências maiores. A
distribuição quantitativa
O número de fenótipos que podem ser encontrados, em
um caso de herança poligênica, depende do número de pares de alelos envolvidos,
que chamamos n.
Número de fenótipos = 2n + 1
Se uma característica é determinada por três pares de
alelos, sete fenótipos distintos podem ser encontrados. Cada grupo de
indivíduos que expressam o mesmo fenótipo constitui uma classe fenotípica.
Sabendo-se o número de pares envolvidos na herança,
podemos estimar a frequência esperada de indivíduos que demonstram os fenótipos
extremos, em que n é o número de pares de genes.
Frequência
dos fenótipos extremos =1/4n
PLEIOTROPIA
Um par de genes, várias características
Pleiotropia (do grego, pleion = mais
numeroso e tropos
= afinidade) é o fenômeno em que um
par de genes alelos condiciona o aparecimento de várias características
no mesmo organismo. A pleiotropia mostra que a idéia mendeliana, de que cada
gene afeta apenas uma característica, nem sempre é valida. Por exemplo, certos
ratos nascem com costelas espessadas, traquéia estreitada, pulmões com
elasticidade diminuída e narinas bloqueadas, o que fatalmente os levará a
morte. Todas essas características são devidas à ação de apenas um par de
genes, portanto, um caso de pleiotropia.
Disponível em: http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Genetica/genesnaoalelos4.php
HERANÇA DA
COR DOS OLHOS NA ESPÉCIE HUMANA
O primeiro modelo explicativo para a herança da cor dos olhos na espécie
humana foi proposto em 1907. Segundo esse modelo a cor dos olhos era
determinada por um par de genes alelos. O alelo dominante era responsável pela cor preta ou castanha. O
alelo recessivo era responsável pela
cor azul.
A tabela a seguir mostra os fenótipos e genótipos para a cor dos olhos,
baseado na herança de 1 par de genes.
Fenótipo
|
Genótipo
|
Preto ou castanho
|
AA, Aa
|
Azul
|
aa
|
O modelo proposto, porém, não explicava a origem das outras diversas
cores intermediárias que a íris pode apresentar.
ORIGEM DAS
DIVERSAS CORES DOS OLHOS
A porção colorida do olho chama-se iris
e sua cor varia do preto (quase negro) ao cinza e azul-claro, passando pelo
verde e alguns tons de castanho.
Não existem pigmentos azuis ou verdes na iris humana. Nessa região do
olho existe apenas um pigmento marrom-amarelado
chamado melanina. A melanina encontra-se
no interior de células chamadas melanócitos. Os melanócitos localizam-se na
camada anterior da iris e estão imersos em tecido conjuntivo. As diversas cores
do olho humano são resultado da quantidade de melanina presente e de efeitos
ópticos. Assim temos:
Olhos
escuros (castanho escuro) c Resulta do
acúmulo de melanócitos na porção anterior da iris. Nesse caso, os melanócitos
absorvem a maior parte da luz incidente e refletem uma determinada quantidade
de luz marrom-amarelada.
Olhos claros
(azul) c A porção anterior da iris apresenta pouca quantidade de melanócitos e
apenas uma parte dos raios luminosos é refletida como luz marrom-amarelada. A
maior parte dos raios luminosos incidentes atravessa a camada sem pigmentação
da iris, onde os comprimentos de onda mais curtos (luz azul) são seletivamente
refletidos. Fenômeno da dispersão de Rayleigh.
Nesse caso o olho será azul, pois haverá predominância do azul na luz
refletida.
Olhos claros
(verde) c Quando a porção anterior da iris contiver uma quantidade intermediária
de melanócitos, a luz refletida, de cor marrom- amarelada, combinada com a luz
azul, produzida pelo efeito Rayleigh, resultará na cor verde do olho.
Resumindo: a progressiva diminuição da quantidade de melanócitos e,
consequentemente, de melanina na camada anterior da iris produzirá a gradação
de cores desde o castanho-escuro até o verde e, finalmente, a falta quase total
do pigmento provocará a gradação do azul ao cinza.
GENES
ENVOLVIDOS NA DETERMINAÇÃO DA COR DOS OLHOS
Dois genes estão envolvidos na determinação da cor dos olhos humanos. No
cromossomo 19 foi identificado o gene EYCL1,
conhecido como GEY e, no cromossomo
15 foi identificado o gene EYCL3 ou BEY. Ambos os genes estão envolvidos na
produção da melanina.
Gene GEY (Green eye color gene) c há dois alelos conhecidos deste gene, podendo existir outros.
GV – dominante, condiciona a cor verde
GA – recessivo, condiciona a cor azul
Gene BEY (Brown eye color gene) c apresenta dois alelos conhecidos.
BM – dominante, condiciona a cor marrom (castanho)
BA – dominante, condiciona a cor azul
Admite-se que entre esses dois pares de genes ocorra uma interação gênica epistática dominante, sendo o gene BM (alelo
para marrom) epistático sobre os dois genes GV e GA. Assim,
sempre que o indivíduo apresentar pelo menos 1 gene BM terá fenótipo
castanho. Para apresentar olhos claros (azul ou verde) o indivíduo deve
possuir, pelo menos, o par BA BA. A tabela a seguir
mostra os genótipos e fenótipos possíveis para a cor da iris do olho humano.
Fenótipo
|
Genótipo
|
Castanho
|
BM _ _ _
|
Verde
|
BA BA GV
_
|
Azul
|
BA BA GA
GA
|
A determinação genética da cor dos olhos ainda não está completamente
explicada, pois um terceiro gene, EYCL2
ou BEY1, que contribui para a cor
castanha, foi localizado também no cromossomo 15.
Admite-se que possam existir
outros genes, além dos já identificados, atuando na determinação da cor dos
olhos. Ainda não há, por exemplo, explicação para o fato de alguns casais de
olhos azuis gerarem, raramente, filhos de olhos castanhos.
Disponível em: http://profdna-biologia.blogspot.com.br/2011/07/heranca-da-cor-dos-olhos-na-especie.html